segunda-feira, 27 de junho de 2011

Histórias inacabadas (ii)


Na cristaleira da vó, na penteadeira da tia, na oficina do tio...


Minha avó morava em uma casa com um quintal enorme, cheio de pé de manga, de jabuticaba e de jenipapo. Uma casa antiga, mas tão antiga que a avó da minha avó nasceu e morou lá!
Por ser bem perto de nossa casa, não era difícil saber o que acontecia na casa da vó. Sua poderosa garganta nos avisava quando ela estava brava com o meu tio, o que ocorria praticamente todos os dias!
Vou explicar: meu tio Zezinho não quis fazer como meus outros oito tios, que se casaram e foram para suas casas. Ele e sua irmã gêmea, a tia Zezé, ficaram morando com meus avós.
Tia Zezé era costureira e vendia perfumes de uma marca conhecida. Por isso a sua penteadeira era um luxo só como dizia o meu avô, que vivia por lá investigando o cheiro dos desodorantes e perfumes. Nós, os sobrinhos, éramos proibidos até de entrar em seu quarto!
A cristaleira da minha avó era outro lugar onde não podíamos nem triscar o dedo. Lá ela guardava a louça mais fina, algumas jarras de cristal, uns potes de sobremesa, tudo coisa muita antiga e, para ela, valiosa.
Tio Zezinho consertava tudo em sua oficina cheia de ferramentas e máquinas, no fundo do quintal. Vinha gente de outras cidades em busca de resolver ali os seus problemas. Diziam seus amigos – “Se Zezinho não consertar, pode jogar fora, que não tem mais jeito”.
As brigas de minha avó eram por desleixo dele, que dava a devida atenção à limpeza da casa. Tio Zezinho era distraído de dar nos nervos (dela, é claro!).
Mas ele era tão habilidoso, que tudo que compensava “suas distrações” – imaginem vocês que ele consertava até pensamento! Era o que ele dizia. E provava. Eu era ainda pequeno, mas observei o diálogo dele com um homem que levara uma sela de cavalo para ele consertar...

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