Na cristaleira da vó, na penteadeira da tia, na oficina do tio...
Minha avó morava em uma casa com um quintal enorme, cheio de pé de manga, de jabuticaba e de jenipapo. Uma casa antiga, mas tão antiga que a avó da minha avó nasceu e morou lá!
Por ser bem perto de nossa casa, não era difícil saber o que acontecia na casa da vó. Sua poderosa garganta nos avisava quando ela estava brava com o meu tio, o que ocorria praticamente todos os dias!
Vou explicar: meu tio Zezinho não quis fazer como meus outros oito tios, que se casaram e foram para suas casas. Ele e sua irmã gêmea, a tia Zezé, ficaram morando com meus avós.
Tia Zezé era costureira e vendia perfumes de uma marca conhecida. Por isso a sua penteadeira era um luxo só como dizia o meu avô, que vivia por lá investigando o cheiro dos desodorantes e perfumes. Nós, os sobrinhos, éramos proibidos até de entrar em seu quarto!A cristaleira da minha avó era outro lugar onde não podíamos nem triscar o dedo. Lá ela guardava a louça mais fina, algumas jarras de cristal, uns potes de sobremesa, tudo coisa muita antiga e, para ela, valiosa.
Tio Zezinho consertava tudo em sua oficina cheia de ferramentas e máquinas, no fundo do quintal. Vinha gente de outras cidades em busca de resolver ali os seus problemas. Diziam seus amigos – “Se Zezinho não consertar, pode jogar fora, que não tem mais jeito”.
As brigas de minha avó eram por desleixo dele, que dava a devida atenção à limpeza da casa. Tio Zezinho era distraído de dar nos nervos (dela, é claro!).
Mas ele era tão habilidoso, que tudo que compensava “suas distrações” – imaginem vocês que ele consertava até pensamento! Era o que ele dizia. E provava. Eu era ainda pequeno, mas observei o diálogo dele com um homem que levara uma sela de cavalo para ele consertar...
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