Certos
produtos penetram o imaginário popular de tal forma, que é como se existissem
há séculos e fizessem parte da dieta dos nossos mais remotos antepassados.
Alguns, em
particular, costumam participar de fatos históricos. Pelo menos numa das
histórias que me chegaram aos ouvidos. Lendárias ou não, são saborosas.
Contam, por
exemplo, aquela na qual o Leite Moça teria decidido a eleição de um presidente.
Isso aconteceu logo depois do segundo mandato do Getúlio Vargas.
Os integrantes
do Partido Social Democrata pareciam desejar ressuscitar a “política do café
com leite”, entre Minas Gerais e São Paulo.
Ao se decidir
sobre a escolha do candidato a presidente, a delegação paulista que se dirigira
a Belo Horizonte, impôs o seu candidato ao partido.
Os ânimos iam
exaltados e já se previa uma guerra nos bastidores, com consequências
imprevisíveis.
Foi quando um
dos representantes paulistas, ligado aos industriais, fez um sinal secreto aos
seus assessores.
O auditório
foi invadido por latas de Leite Moça, que foram distribuídas a todos os
participantes do conclave, já abertas, com um furinho, prontas para serem
consumidas.
Houve um
grande murmúrio de aprovação no recinto e tudo mergulhou no mais profundo silêncio,
segundos depois.
Ouvia-se
apenas o incômodo barulho que os mais gulosos faziam ao sugar o leite sem os
modos civilizados, muito apregoados na época.
Após deliciarem-se
com o Leite Moça, o ânimo geral se acalmou e a discussão tomou novo rumo.
Um dos
representantes da delegação mineira, matreiramente, solicitou ao seu colega paulista
que lhes fornecesse uma caixa do leite fabricado pelo que denominou de “sua
pujante indústria”.
Serviu-se,
quase ao final, o mais saboroso café que já se havia tomado. Café com Leite
Moça. Essa invenção mineira desnorteou os paulistas. Partiram para o consenso.
Escolheram o Juscelino Kubitschek para candidato, como todos sabemos.
Contam que este,
ao decorar o Palácio da Alvorada anos mais tarde, manteve durante todo o seu
mandato, na espaçosa cozinha do palácio, um pôster com a menina do Leite Moça,
em tamanho natural. Ao convidar os amigos mais íntimos a tomar ali um
cafezinho, dizia que “aquela moça ali” o ajudara a se eleger presidente.
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