sábado, 16 de abril de 2011

Dispersão

Andei disperso, disseminando muita coisa ao vento
e agora, mais sereno, devo me disciplinar...

Disse um dia alguém, insuspeitadamente coerente:
semeadura exige canteiros em linha,
e embora a geometria indique prisão
(grades, espaços circunscritos, limitados)
não há melhor chão a acolher tua semente
do que aquele antecipadamente preparado -
já trilhado, cuidado, anteriormente visitado...

Tenho, pois, encontro marcado, todo dia
com a Poesia, que exigente há de me cobrar:
- semeaste, preparaste, o que andaste lapidando?
o que andaste lendo? a quem revisitaste?
- pensas que basta lançar a mão ao vento?!
as mãos carregam o que vai cheio teu coração
e este não se preenche somente de promessas
de sonhos, de quimeras, mas de suor no chão...

Calo e me preparo, tomo o alforje na mão
sei já o que carrego, o que tenho catalogado
o que devo desprezar para que, vazio,
me encontre atento e aberto
ao que devo acolher
para semear