quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O "cultivo da erudição acadêmica" dos cursos de Pedagogia

Durante 2008 houve um acirrado debate em torno das deficiências dos cursos de formação de professores e um dos tópicos mais destacados foi o da excessiva teorização em detrimento da busca de se aprender a dar a aula na prática

O que desejamos neste post é tão só destacar a incômoda lucidez do Darcy Ribeiro, nosso conhecido antropólogo, educador e homem público. No encerramento de uma longa e interessante entrevista concedida à Revista Presença Pedagógica (mar./abr. 1996 v.2 n.8) ele nos dá o recado na medida exata. 

Perguntaram-lhe
Que formação é preciso dar aos professores para melhorar o ensino em geral, e o ensino público em particular?

Respondeu ele
Uma das deficiências fundamentais do sistema educacional brasileiro é que ele está muito mais voltado para o cultivo da erudição acadêmica, para os discursos sobre a didática e a pedagogia, do que para a prática de ensinar. 

É preciso reconhecer e valorizar o talento e a sensibilidade daqueles professores que, apesar de todas as dificuldades, conseguem, na prática, alfabetizar, para que se possa aprender com eles, vendo-os trabalhar e analisar seu modo de atuar.

Ensinar é uma arte. Pedagogia, Didática são instrumentos que facilitam o exercício dessa arte, mas não a substituem.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Disciplina ao quadrado...

No semestre que vem retornarei à sala de aula em uma turma presencial, na Univ. Federal de Rondônia. A disciplina é Metodologia da Pesquisa, que será ministrada no curso de Letras, para alunos do 3º período. 

Eu prefiro, para início de conversa, denominar esta disciplina como sendo "metodologia do trabalho acadêmico", pois é isto, em essência, que ela é. E assim há de ser.

Para ensinar a elaborar trabalhos acadêmicos, desde um simples resumo a um artigo científico é necessário alguns preâmbulos, isto é, precisamos retomar com os alunos o aprofundamento de três requisitos fundamentais: ler, interpretar e escrever (justamente as competências que, de modo  geral, não foram trabalhadas devidamente durante o percurso de aprendizagem dos alunos, ao longo de mais de uma década...!)

É assim que, dentro da estratégia de ensino-aprendizagem adotada, focamos desde o primeiro dia de aula a leitura de textos significativos - aqueles que dizem respeito à área de formação geral do aluno e que sejam de fácil compreensão, em uma primeira abordagem. 

Estes textos, no entanto, devem nos remeter a debates em torno de questões importantes e abrangentes. E neste caso, linguaguem simples não pode ser sinônimo de superficialidade e pobreza temática. 

Daí que costumo escolher trechos ou mesmo pequenos artigos inteiros, extraídos de revistas científicas. Para que os alunos adentrem o mundo da produção acadêmica, o mais cedo possível, é importante chamar-lhes a atenção para as publicações científicas de sua área de formação, nos primeiros períodos. 

Como se trata de alunos de Letras - Língua Portuguesa (Habilitação em Língua Portuguesa e suas literaturas) estou coletando dados para lhes apresentar algumas publicações científicas em torno da Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura. 

Hoje apresento as três primeiras revistas, todas tendo como suporte e veículo a internet:

Letra Magna - Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura.
    
Linguasagem - Revista Eletrônica de Popularização Científica em Ciências da Linguagem, publicação conjunta do Departamento de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR.  

Cadernos de Tradução - Publicação semestral da Pós-Graduação em Estudos da Tradução - PGET, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

Os futuros alunos de Porto Velho e os alunos dos recém-ministrados cursos de Tecnologia da Informação e Comunicação e Metodologia Científica, de Ariquemes e Ji-Paraná, já estão convidados a tomar contato com estas produções acadêmicas.  

Boa pesquisa a todos.

PS.: para ministrar disciplinas com proveito é necessário nos disciplinarmos na preparação de todo o material, com a devida antecedência; disciplina ao quadrado é, pois, uma condição básica para contribuirmos, de alguma forma, para livrar a classe docente da fama de "enrolona" e "improvisadora", hoje tão disseminada e, por vezes, justa...

sábado, 20 de dezembro de 2008

Os caminhos não previsíveis dos hipertextos: quem não procura também acha...

O caso da lingüística de corpus 

Muito se tem estudado sobre o hipertexto - para o vulgo, nós outros, os links que nos remete daqui para ali na internet; para os doutos hipertexto "designa um processo de escrita/leitura não-linear e não hierarquizada que permite o acesso ilimitado a outros textos de forma instantânea" (Fachinetto, 2008)

Além de convidá-los a ler o interessante artigo O hipertexto e as práticas de leitura, de Eliane Arbusti Fachinetto, seguiremos mostrando que mesmo não desejando conhecer certos temas (num determinado instante) e mesmo desconhecendo-os, acabamos por tomar contato com os mesmos, graças às infindas possibilidades de descobertas que o hipertexto e seus labirintos nos enseja (vide nota no final da página, por favor!).

Hoje, por exemplo, eu estava a ler um texto já baixado e catalogado na pasta Argumentatum, no meu computador. Tratava-se do artigo Aspectos externos e internos da aquisição lexical, de Vilson J. Leffa. 

O meu interesse ao ler este artigo era/é saber mais sobre o processo de aquisição de vocabulário ou processo de aquisição lexical. E, evidentemente, a partir disso criar exercícios, textos, estratégias lúdicas, preferencialmente, para estas aquisições. 

O ensino do vocabulário, segundo Leffa,  oscila entre duas práticas e abordagens - a interna e a externa. Dentre as externas, com "ênfase no material que deve ser preparado e oferecido ao aluno" tem-se: 

a) os estudos sobre freqüência;              
b) os dicionários de aprendizagem; 
c) a lingüística de corpus e 
d) uma tipologia específica de exercícios.

O que mais nos chamou a atenção foi a lingüística de corpus. O termo corpus diz respeito à "coleção de textos da língua efetivamente em uso coligidos em livros, periódicos, documentos de todo tipo", conforme o iDicionário Aulete (http://www.aulete.portaldapalavra.com.br/index.php)

Fui, então, em busca de saber o que seria a "lingüística de corpus". Digitei estes dois termos,  exatamente assim, entre aspas, no Google. 

A despeito das suspeitas em torno da Wikipédia, foi por lá que comecei a jornada. De lá, por meios das ligações externas cheguei ao Banco de Português. Graças a muitos links quebrados, optei em acessar a página do desenvolvedor do sítio - Tony Berber Sardinha. Professor e pesquisador, eis o seu breve currículo: docente do Depto. de Lingüística e do Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada (LAEL) e membro do Centro de Pesquisa, Recursos e Informação em Linguagem (CEPRIL) da PUCSP. 

No sítio do Tony aceitamos o seu convite de conhecer algumas de suas publicações e apresentações. Na verdade, o link dá acesso a uma pasta contendo apenas os arquivos tal como vieram ao mundo (uma área de garimpagem, onde os próprios títulos por vezes nos surpreendem ao nos deparar, mais adiante, com o texto)... 

E assim, curioso, cheguei ao árido Index of /~tony/temp/publications.

Lá encontrei um arquivo, uma apresentação em pdf, denominada As metáforas com que trabalhamos: Metáforas em teleconferências bancárias .

Uma rápida lida nos permitiu vislumbrar panoramicamente o que julgamos ser a lingüística de corpus, situando-nos  tanto quanto ao tema abordado, quanto ao modus operandi desta área de pesquisa.

Em seguida, buscamos outro arquivo, aleatoriamente. Deparamo-nos, então, com outra apresentação, esta mais encorpada nas suas 51 páginas e competente apresentação gráfica.

O título mais uma vez nos remeteu a um tema que parece central a este campo da lingüística: Metáfora e Lingüística de Corpus

Já li até a página 30 e amanhã, pela madrugada retomarei a leitura das páginas restantes. 

E, eu, que sinceramente, tenho muito dificuldade em assimilar alguns conceitos estou a entender com mais profundidade o que seja metáfora. A tal ponto que daqui a mais uns dias estarei pronto a acrescentar à minha fala, diante dos doutos, esta pernóstica expressão: "Bem, metaforicamente falando, eu posso afiançar que..."

NOTA

...nos enseja. Anteriormente eu havia escrito nos permite. E ao fazer a alteração me veio à mente a famigerada construção nos oportuniza, infeliz como poucas. O nos enseja, apreciemos, é de fácil entendimento e de uma beleza próprias das coisas simples... E substitui o nos oportuniza, de quebra, com elegância e concisão.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Uma imagem, muitas palavras... Agim Sulaj

O sítio de Agim Sulaj, pintor, cartunista, enfim um completo artista gráfico, nascido na Albânia e radicado na Itália, merece uma visita demorada.

No último post fizemos referência a um exercício de ampliação de vocabulário (Uma imagem, muitas palavras...) e nele utilizamos dois cartuns dele. 

A idéia hoje seria apresentar mais um dos seus cartuns, mas apresentaremos um dos quadro a óleo, de impressionante realismo. 

Agim Sulaj

A partir dele criarei mais um exercício e a palavra-mestra há de ser: livro. As outras tantas os leitores sacarão da imagem...

A propósito, conciliar letramento visual e textual é fundamental nestes tempos em que imagem e texto se combinam e invadam a mídia e o nosso olhar.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Uma imagens, muitas palavras... Um exercício ao vivo

Acabo de criar mais um exercício de incentivo à leitura visual denominado Uma imagem, muitas palavras... já aqui referido.

O meu filho Gabriel, de 10 anos, aceitou o desafio de fazer o exercício. Ele não conseguiu decodificar os cartuns, a princípio. Precisou de um empurrãozinho. Depois, em poucos minutos, encontrou as palavras que ele pensou ter a ver com as imagens apresentadas.

Veja aqui o exercício. As palavras que ele anotou foram:

. mala
. caminho
. bagagem
. acontecimentos
. viagem
. estrada
. história

A palavra-mestra foi destino. E a partir destes oito termos será possível escrever um texto qualquer, mais facilmente, acredito. Preciso agora testar isso também.

É isso.

Um poema muito apropriado para nos lembrarmos do motivo de existência do Natal...

O Rei  Menino

O estandarte do Rei não é de púrpura e brocado,
é um lírio flutuante sobre o caos
onde ambições se digladiam
e ódios se estraçalham.
O Rei vem cumprir o anúncio de Isaías:
vem para evangelizar os brutos,
consolar os que choram,
exaltar os cobertos de cinza,
desentranhar o sentido exato da paz,
magnificar a justiça.

Entre Belém e Judá e Wall Street
no torvelinho de negociações e equívocos,
a vergasta de luz deixa atônitos os fariseus.
Cegos distinguem o sinal,
surdos captam a melodia de anjos-cantadores,
mudos descobrem o movimento da palavra.
O Rei sem manto e sem jóias,
nu como folha de erva,
distribui riquezas não tituladas.
Oferece a transparência
da alma liberta de cuidados vis.
As coisas já não são as antigas coisas
de perecível beleza
e o homem não é mais cativo de sua sombra.
A limitação dos seres foi vencida
por uma alegria não censurada,
graça de reinventar a Terra,
antes castigo e exílio,
hoje flecha em direção infinita.

O Rei, criança,
permanecerá criança mesmo sob vestes trágicas
porque assim o vimos e queremos,
assim nos curvamos diante do seu berço
tecido de palha, vento e ar.

Seu sangrento destino prefixado não dilui
a luminosidade desta cena.
O menino, apenas um menino,
acima das filosofias, da cibernética e dos dólares,
sustenta o peso do mundo
na palma ingênua das mãos.

Carlos Drummond de Andrade,
in Farewell

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Serenidade diante da morte

Meus caros, conhecidos e desconhecidos.

Este é o primeiro dos últimos dias de minha vida. Não descobri isso agora, neste instante, mas ao longo dos últimos longos anos, ao meditar e constatar a óbvia mais difícil brevidade da vida (pelo menos nessa edição...)

"Não tenho nada a perder, só a ganhar!" tem sido a minha frase de cabeceira. Com ela acordo e com ela me nutro.

A serenidade começa a tomar conta de mim, pouco a pouco. E mesmo com a perspectiva da morte a me rondar.... pelos próximos 40 ou 50 anos (nisso tenho sido otimista ao extremo) sigo confiante de que cumprirei minhas tarefas por aqui; hei de deixar para os pósteros uma vida e uma obra que valeu e pena...

Uma mania tem me marcado desde algum tempo: pegar carona na serenidade alheia face à morte! Agora o faço com o Saramago. Outrora fiz com outros, desde o rompimento com o Pedro Nava, que desertou da vida e me abalou profundamente, fazendo-me agarrar a todos os fiapos de vida sem restrições...

SaramagoDesde então, tenho me alimentado do "tônus vital" desses que lutam com alegria (e com ironia e sagacidade) e vão sorvendo, gota a gota cada sinal, rastro, indício, vestígio de vitalidade nos sinalizando que é assim se deve morrer-vivendo e viver-morrendo, a despeito das nossas crenças ou descrenças na continuidade da existência em outras edições, volumes, tomos...

Agora sigo com Saramago que não afinou diante das parcas a lhe rondar os calcanhares. Ignora-as solenemente. E segue rascunhado no seu blog, quase diariamente e escrevendo seus livros. O derradeiro - A viagem do elefante mereceu ampla reportagem da Revista da Cultura à qual convido todos a lerem.

É isso. Brindando e reverenciando a vida, sigamos.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Don Quichotte

Cliquei sem querer no link que leva ao sítio de Don Quichotte. Um sugestivo nome para uma revista mensal de humor gráfico turco-alemã...

O humor gráfico - que abrange o cartum, a charge e a caricatura - exige um constante exercício de leitura para aprimorarmos a sua leitura, a sua decodificação ou o que denominam hoje de "letramento visual".

No exercício de leitura/escrita que desenvolvemos, denominado Uma imagem, muitas palavras... (vide um exemplo) temos utilizado o humor gráfico para dar início do processo de evocação das palavras, para compor um quadro de termos (um conjunto de palavras), com alguns verbetes e seus significados.

No próximo exercício do Uma imagem, muitas palavras... penso em me utilizar do cartum de Agim Sulaj, da Itália, apresentado na revista virtual Don Quichotte, já citada e apresentada aí abaixo:



Que palavra-mestra nos é sugerida ao contemplarmos esta imagem?

Depois continuaremos a conversa!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Tenho lido o blog do Saramago...


Tenho lido O caderno de Saramago, o blog deste escritor português, por meio do Reader do Google (ferramenta que vale a pena conhecer e utilizar).

Por ora, apenas o Saramago do blog tem me bastado...

Ele me pareceu, pelo que andei a ler, um humanista de boa cepa. Além de bater papo com os leitores, de forma desprentenciosa, mas sempre competente. Lendo-o acuradamente aprende-se a escrever...

Baixei da internet O Ensaio sobre a cegueira e espero dispor de tempo, em breve, para lê-lo.

Enquanto isso, e tendo em vista o propósito deste blog, estou a começar a escolha de material para o "Frases memoráveis e seus autores interessantes". Material para incentivo à leitura-feita-com-prazer, para ser lido no mural da escola, conforme nossa proposta.

Até.