sexta-feira, 10 de abril de 2009

Vevo! Quem viver, verá (em breve)

Traduzindo (via www.apertium mais minhas arrumações) e replicando

YouTube e Universal lançam um portal de vídeos musicais 
Vevo é como se chamará e estará no ar no final do ano. Contará com todas as canções da gravadora e será financiado via publicidade

O portal de vídeos YouTube, propriedade de Google, e o grupo Universal Music Group, propriedade do conglomerado francês Vivendi, trabalharão juntos na criação do portal Vevo, que incluirá canções e vídeos musicais, anunciaram nesta quinta-feira ambas as companhias. 

O portal será inaugurado no final deste ano e usará o domínio www.vevo.com, registrado em novembro de 2008, que ainda permanece sem funcionamento [apenas acolhe inscrições para dar retorno futuramente].

As companhias explicam que este portal terá disponível o catálogo completo de vídeos musicais lançados pela Universal, a  maior gravadora do mundo.

O YouTube ficou encarregado de prover a tecnologia e Universal Music Group disponibilizará o conteúdo, repartindo depois os lucros advindo da publicidade, tanto do portal Vevo.com, como do canal Vevo no próprio YouTube.

Outras companhias

O canal da gravadora Universal no YouTube é o mais visto do portal, com 3.500 milhões de visitas.

As companhias não especificaram a participação de outra gravadora na criação deste novo portal. Doug Morris, diretor de Universal Music, porém, afirmou em uma entrevista ao CNET que no futuro outras companhias poderão juntar a eles.

"No momento do lançamento do Vevo, achamos que o portal já terá mais tráfico que qualquer outro de temática musical nos EUA e no resto do mundo", disse Morris.

Fonte: http://www.publico.es/ciencias/217683/youtube/universal/lanzan/portal/videos/musicales

Os Titãs tinham razão: a gente não quer só comida!

A experiência do repórter da revista Nova Escola nas ruas de São Paulo: ao invés de um trocado, livros!!

Muitos anos depois de me deliciar vendo o "povão" na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, assistir um espetáculo de música erudita "sem arredar o pé" ou "bocejar", volto a confirmar, por meio da experiência alheia, que o tal "povão" gosta de boas coisas, principalmente quando tem acesso a elas!!

Vamos à reportagem:

Vale mais que um trocado

Ambulantes, pedintes e moradores de rua não esperam só por dinheiro dos motoristas parados no sinal vermelho. Sem pagar pra ver, eu vi

Rodrigo Ratier (rodrigo.ratier@abril.com.br)

"Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?" Repeti essa oferta a pedintes, artistas circenses e vendedores ambulantes, pessoas de todas as idades que fazem dos congestionamentos da cidade de São Paulo o cenário de seu ganha-pão. A ideia surgiu de uma combinação com os colegas de NOVA ESCOLA: em vez de dinheiro, eu ofereceria um livro a quem me abordasse - e conferiria as reações. 

Para começar, acomodei 45 obras variadas - do clássico Auto da Barca do Inferno, escrito por Gil Vicente, ao infantil divertidíssimo Divina Albertina, da contemporânea Christine Davenier - em uma caixa de papelão no banco do carona de meu Palio preto. Tudo pronto, hora de rodar. Em 13 oferecimentos, nenhuma recusa. E houve gente que pediu mais.

Nas ruas, tem de tudo. Diferentemente do que se pode pensar, a maioria dessas pessoas tem, sim, alguma formação escolar. Uma pesquisa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, realizada só com moradores de rua e divulgada em 2008, revelou que apenas 15% nunca estudaram. Como 74% afirmam ter sido alfabetizados, não é exagero dizer que as vias públicas são um terreno fértil para a leitura. Notei até certa familiaridade com o tema. No primeiro dia, num cruzamento do Itaim, um bairro nobre, encontrei Vitor*, 20 anos, vendedor de balas. Assim que comecei a falar, ele projetou a cabeça para dentro do veículo e examinou o acervo: 

- Tem aí algum do Sidney Sheldon? Era o que eu mais curtia quando estava na cadeia. Foi lá que aprendi a ler. 

Na ausência do célebre novelista americano, o critério de seleção se tornou mais simples. Vitor pegou o exemplar mais grosso da caixa e aproveitou para escolher outro - "Esse do castelo, que deve ser de mistério" - para presentear a mulher que o esperava na calçada. 

Aos poucos, fui percebendo que o público mais crítico era formado por jovens, como Micaela*, 15 anos. Ela é parte do contingente de 2 mil ambulantes que batem ponto nos semáforos da cidade, de acordo com números da prefeitura de São Paulo. Num domingo, enfrentava com paçocas a 1 real uma concorrência que apinhava todos os cruzamentos da avenida Tiradentes, no centro. Fiz a pergunta de sempre. E ela respondeu: 

- Hum, depende do livro. Tem algum de literatura?, provocou, antes de se decidir por Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. 

As crianças faziam festa (um dado vergonhoso: segundo a Prefeitura, ainda existem 1,8 mil delas nas ruas de São Paulo). Por estarem sempre acompanhadas, minha coleção diminuía a cada um desses encontros do acaso. Érico*, 9 anos, chegou com ar desconfiado pelo lado do passageiro: 

- Sabe ler?, perguntei. 

- Não..., disse ele, enquanto olhava a caixa. Mas, já prevendo o que poderia ganhar, reformulou a resposta: 

- Sim. Sei, sim. 

- Em que ano você está? 

- Na 4ª B. Tio, você pode dar um para mim e outros para meus amigos?, indagou, apontando para um menino e uma menina, que já se aproximavam. 

Mas o problema, como canta Paulinho da Viola, é que o sinal ia abrir. O motorista do carro da frente, indiferente à corrida desenfreada do trio, arrancou pela avenida Brasil, levando embora a mercadoria pendurada no retrovisor. 

Se no momento das entregas que eu realizava se misturavam humor, drama, aventura e certo suspense, observar a reação das pessoas depois de presenteadas era como reler um livro que fica mais saboroso a cada leitura. Esquina após esquina, o enredo se repetia: enquanto eu esperava o sinal abrir, adultos e crianças, sentados no meio-fio, folheavam páginas. Pareciam se esquecer dos produtos, dos malabares, do dinheiro... 

- Ganhar um livro é sempre bem-vindo. A literatura é maravilhosa, explicou, com sensibilidade, um vendedor de raquetes que dão choques em insetos. 

Quase chegando ao fim da jornada literária, conheci Maria*. Carregava a pequena Vitória*, 1 ano recém-completado, e cobiçava alguns trocados num canteiro da Zona Norte da cidade. Ganhou um livro infantil e agradeceu. Avancei dois quarteirões e fiz o retorno. Então, a vi novamente. Ela lia para a menininha no colo. Espremi os olhos para tentar ver seu semblante pelo retrovisor. Acho que sorria. 

* os nomes foram trocados para preservar os personagens.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ítaca ou Conversas em torno da vida vivida, do sucesso, do fracasso, da vida a se viver...

Um ministro, uma empreendedora e um psiquiatra conversam sobre a ilusão do sucesso e o temor ao fracasso

Os conceitos de sucesso e fracasso estão em pólos opostos e podem ser vistos como relativos quando, com o passar o tempo se aprofunda a reflexão sobre os momentos de vida das pessoas. Cristóvão Colombo morreu na pobreza, sem saber que tinha chegado a América e o próprio Cristo, que ao padecer na cruz marca a verdadeira vitória sobre a morte, foi visto por muitos de seus contemporâneos como um fracassado, são alguns dos personagens da história que viveram esta dualidade.

Em uma mesa redonda ocorrida na Universidade Católica do Chile conversou-se com René Cortázar, economista, ex-diretor executivo da Televisão Nacional e Ministro de Transportes e Telecomunicações; com Mirella Cannobio, dona de uma pasteleira na comunidade de San Ramón, mãe de três excelentes alunas da universidade e com Jorge Barros, chefe da Unidade de Psiquiatria Infanto-Juvenil da UC. Entre os temas que se abordaram estão o risco ante os desafios, o medo do fracasso e as expectativas face ao sucesso e a morte.

Ao falar do tema da morte, Jorge Barros se referiu ao suicídio, às pressões do sucesso e o medo do fracasso, mencionando que apesar de todos avanços da medicina moderna terem melhorado consideravelmente a vida das pessoas, as taxas de suicídios se mantiveram estáveis ou aumentaram durante o século XX. Isto mostra a complexidade do ser humano e os diversos fatores envolvidos. “Entre estes estão, sem dúvida, o desejo de um sucesso específico e a sensação de fracasso quando não se obtém isso. A pessoa se sente desiludida por não ter conseguido uma meta que a priori se desejava obter e é incapaz de reconhecer as metas intermediárias”, comentou o psiquiatra.

Por outro lado, tivemos o depoimento comovente de Mirella Cannobio, que colocou como meta a educação dos filhos e estes tem atingido resultados excepcionais. Para isso, esforçou-se em apoiar suas filhas universitárias, transmitindo-lhes a importância do esforço, do rigor e da disciplina para serem estudantes competentes. Com uma casa cheia de livros, três de suas filhas conseguiram chegar à Universidade Católica com alta pontuação nas provas em carreiras como Medicina, Engenharia e Odontologia, além de ter seu filho menor no Instituto Nacional. Ela conta que não foi fácil e que o seu êxito somente será pleno quanto vê-los com seus diplomas. Disse que gostaria de ser lembrada apenas “como uma mãe que cumpriu com seu dever, nada mais”.

O ministro Cortázar também referiu-se a este aspecto, ao recordar seus méritos profissionais e o papel de seu pai, falecido em dezembro do ano passado, em sua vida. “Depois de sua morte pensei nas muitas coisas deixadas por ele”, o quanto ele me protegeu em minhas fragilidades, estando sempre presente.

(…) Cortázar afirmou que o sucesso costuma demandar tempo e é necessário tomar consciência disso, no sentido de ter cuidado de não se deixar iludir. Sobre este ponto, Barros usou a imagem do poema Ítaca de Konstantínos Kaváfis, que relata a viagem de um homem a esta ilha grega. O personagem ao chegar a seu destino se dá conta que sua meta perdia o valor diante do que ele tinha vivido durante o percurso. “A meu ver, o grande sucesso é ter a vontade, a disposição de desfrutar e a capacidade de reconhecer na vida cotidiana o valor das coisas, o olhar para atrás e reconhecer que se realizou a tarefa, apesar de que tenha sido menos do que se esperava ou mais do que se pensava“, concluiu o psiquiatra.

Fonte: Pontificia Universidad Católica de Chile - 6/4/2009

http://www.universia.cl/portada/actualidad/noticia_actualidad.jsp?noticia=141895

Tradução: Abel Sidney

Ítaca, conforme aprendi ainda há pouco, "é o porto seguro pretendido por Ulisses na Odisséia de Homero".

E é também o poema do grego Konstantínos Kaváfis (1863-1933)

Ítaca

Se partires um dia rumo à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito. tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.


in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paes (poeta e ensaísta).

terça-feira, 7 de abril de 2009

Dois pensadores críticos em campos opostos, mas em sintonia...

Frei Betto e José Saramago: dois textos em sintonia no essencial

06/04/2009 
Outra leitura para a crise
de José Saramago

A mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras.

E agora, que temos? A crise.

Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?

Fonte: http://caderno.josesaramago.org
     
Religião do consumo

Frei Betto

O "Financial Times", de Londres, noticiou que a Young & Rubicam, uma das maiores agências de publicidade do mundo, divulgou a lista das dez grifes mais reconhecidas por 45.444 jovens e adultos de 19 países. São elas: Coca-Cola (35 milhões de unidades vendidas a cada hora), Disney, Nike, BMW, Porsche, Mercedes-Benz, Adidas, Rolls-Royce, Calvin Klein e Rolex. 

"As marcas constituem a nova religião. As pessoas se voltam a elas em busca de sentido", declarou um diretor da Young & Rubicam. Disse ainda que essas grifes "possuem paixão e dinamismo necessários para transformar o mundo e converter as pessoas em sua maneira de
pensar". 

A Fitch, consultoria londrina de design, no ano passado realçou o caráter "divino" dessas marcas famosas, assinalando que, aos domingos, as pessoas preferem o shopping à missa ou ao culto. Em favor de sua tese, a empresa evocou dois exemplos: desde 1991, cerca de 12 mil pessoas celebraram núpcias nos parques da DisneyWorld, e estão virando moda os féretros marca Halley, nos quais são enterrados os motoqueiros fissurados em produtos Halley-Davidson.

A tese não carece de lógica. Marx já havia denunciado o fetiche da mercadoria. Ainda engatinhando, a Revolução Industrial descobriu que as pessoas não querem apenas o necessário. Se dispõem de poder aquisitivo, adoram ostentar o supérfluo. A publicidade veio ajudar o supérfluo a impor-se como necessário.

A mercadoria, intermediária na relação entre seres humanos (pessoamercadoria-pessoa), passou a ocupar os pólos (mercadoria-pessoamercadoria). Se chego à casa de um amigo de ônibus, meu valor é inferior ao de quem chega de BMW. Isso vale para a camisa que visto ou o relógio que trago no pulso. Não sou eu, pessoa humana, que faço uso do objeto. É o produto, revestido de fetiche, que me imprime valor, aumentando a minha cotação no mercado das relações sociais. O que faria um Descartes neoliberal proclamar: "Consumo, logo existo". Fora do mercado não há salvação, alertam os novos sacerdotes da idolatria consumista.

Essa apropriação religiosa do mercado é evidente nos shoppingcenters, tão bem criticados por José Saramago em A Caverna. Quase todos possuem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas. São os templos do deus mercado. Neles não se entra com qualquer traje, e
sim com roupa de missa de domingo. Percorrem-se os seus claustros marmorizados ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Ali dentro tudo evoca o paraíso: não há mendigos nem pivetes, pobreza ou miséria. Com olhar devoto, o consumidor contempla as capelas que ostentam, em ricos nichos, os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode pagar à vista, sente-se no céu; quem recorre ao cheque especial ou ao crediário, no purgatório; quem não dispõe de recurso, no inferno. Na saída, entretanto, todos se irmanam na mesa "eucarística" do McDonald’s.

A Young & Rubicam comparou as agências de publicidade aos missionários que difundiram pelo mundo religiões como o cristianismo e o islamismo. "As religiões eram baseadas em idéias poderosas que conferiam significado e objetivo à vida", declarou o diretor da agência inglesa.

A fé imprime sentido subjetivo à vida, objetivando-a na prática do amor, enquanto um produto cria apenas a ilusória sensação de que, graças a ele, temos mais valor aos olhos alheios. O consumismo é a doença da baixa auto-estima. Um são Francisco de Assis ou Gandhi não necessitava de nenhum artifício para centrar-se em si e descentrar-se nos outros e em Deus.

O pecado original dessa nova "religião" é que, ao contrário das tradicionais, ela não é altruísta, é egoísta; não favorece a solidariedade, e sim a competitividade; não faz da vida dom, mas posse. E o que é pior: acena com o paraíso na Terra e manda o consumidor para a eternidade completamente desprovido de todos os bens que acumulou deste lado da vida.

A crítica do fetiche da mercadoria data de oito séculos antes de Cristo, conforme este texto do profeta Isaías: "O carpinteiro mede a madeira, desenha a lápis uma figura, trabalha-a com o formão e aplica-lhe o compasso. Faz a escultura com medidas do corpo humano e com rosto
de homem, para que essa imagem possa estar num templo de cedro. O próprio escultor usa parte dessa madeira para esquentar e assar seu pão; e também fabrica um deus e diante dele se ajoelha e faz uma oração, dizendo: "Salva-me, porque tu és o meu deus!" (44, 13-17). Da religião do consumo não escapa nem o consumo da religião, apresentada como um remédio miraculoso, capaz de aliviar dores e angústias, garantir prosperidade e alegria. Enquanto isso, Ele tem 
fome e não lhe dão de comer (Mateus 25, 31-40).

Fonte:http://glauberataide.blogspot.com/2008/05/religio-do-consumo-por-frei-betto-o.html