quarta-feira, 27 de maio de 2009

Crônicas e ensaios IV

Os perigos da arte

"A arte é perigosa para a imaginação e a sensibilidade" Paul Claudel 

Há sérias dúvidas se a arte ainda mereça um tal comentário, como o do Claudel, diplomata e literato francês. O poeta francês considerava essa uma vocação muito arriscada. Poucos resistiriam e acabariam numa vida frustada... Sua afirmação se baseava na vida de cão de sua própria filha Camille, que se tornara esposa do escultor Rodin e de outros artistas franceses do século XIX. 

Quem gostaria de ter um filho como Rimbaud, que aos dezoitos anos, um dos maiores poetas do seu tempo, precoce revelação, trocou literalmente a pena pelo fuzil? Seria o mesmo que tornar-se mercenário e/ou contrabandista de armas e ir lutar em uma das tantas guerras que ainda pipocam mundo afora. Foi o que ele fez, sabe lá Deus o porquê, levando consigo toda a sua poesia.

A própria Globo toma lá os seus cuidados com os jovens e velhos atores, principalmente com os primeiros. Especialistas ministram cursos de administração de carreiras, para que se evite os traumas e dramas que uma carreira bem ou mal sucedida pode acarretar. Disse mal ou bem sucedida, pois nem sempre as tragédias acontecem no ocaso ou no fracasso de uma carreira. O sucesso, por vezes, causa mais mal que o próprio fracasso. As alternâncias entre a evidência que o sucesso causa e o quase anonimato após esse mesmo sucesso, porém, parece ser a combinação mais difícil e perigosa de se administrar. 

É evidente que o artista, nas suas mais amplas variações necessita mais do que outros profissionais de equilíbrio emocional, para administrar sua vida, na breve ou longa carreira que tiver. Quanto mais efêmero e fácil o sucesso, maior deve ser esse prumo. Poucos resistem a um anonimato abrupto, depois de estar em evidência intensamente, às vezes, por tão pouco tempo... 

Outro grande perigo que vitima os artistas é o intenso e alucinado ritmo de trabalho que as produções e o mercado impõem. Não poucos se drogam para suportar as tantas imposições e pressões. 

É de se anotar também um outro fator de risco para aqueles que desejam se aventurar nesta vertiginosa vida. É o risco do sucesso instantâneo, passageiro e de qualidade duvidosa, que tem como complemento as fórmulas fáceis, com as embalagens que a mídia sabe tão bem vender. Os tantos grupos sertanejos ou de pagode são os exemplos mais cruéis da nossa indústria cultural. Primeiro por descaracterizarem o que seja sertanejo e pagode . Depois por serem, na maioria dos casos, meros joguetes das gravadoras. Por fim, é preciso considerar ainda o produto em si. Totalmente descartável. 

A super exposição a que estão sujeitos os homens que se tornam célebres e públicos, é também um grande mal. Invasão total de privacidade e transformação da pessoa em personagem, são alguns dos tantos efeitos colaterais desse gênero de sucesso. Que o diga a Xuxa. Ela sucumbiu ao peso da fama e segundo as análises mais apuradas ela deixou de ser pessoa, para tornar-se uma grife, uma marca, uma sombra... A gravadora do Skank, na contramão dessas tendências, está dosando a exposição do grupo mineiro na mídia, justamente para evitar o desgaste e as oscilações de mercado e público, como a que vitimou o RPM. Desde o crepúsculo do grupo que o Paulo Ricardo tenta, por todas as vias, voltar às estradas largas do sucesso...

Parece-nos que é necessário uma certa dosagem de raciocínio e bom senso nessas questões. E para se evitar as desilusões que acometem todos aqueles sonham voar mais alto que as suas asas permitem, é conveniente ter os pés no chão. E reservar uns longos anos para o amadurecimento da própria obra ou estilo. O tempo é sempre um bom conselheiro. Portanto, andemos devagar com o andor... 

Seção Requentação (Porto Velho, 28 de outubro de 1998)

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