domingo, 4 de julho de 2010

Com direito de réplica, se ele puder se manifestar...

Na dúvida, fico, fincado, com a fé

Respondendo ao poeta eu diria:
Só tem dúvida quem procura se esclarecer...

Se fé brotasse n'alma feito praga
que se espalha, livre, pela plantação
em tudo se acreditaria, até mesmo
em mentira deslavada, cabeluda
ou em crua superstição...

Fé mesmo, dessas que se sustenta
mesmo que sopre o vento e venha a chuva
é aquela que se fundamenta
em muita vivência, observação...
Daí que, então, se acredita
quando o olho, vivo, surpreende assombração!

De pé permanecerá, viva, a fé
que incitada pela dúvida
busque saber, sentir, intuir
pois fé é madeira de lei queimando
e formando, em boa brasa, o carvão
que depois há de aquecer, reconfortante
o peito de quem busca consolação...

De pé, sustentado e firme,
a fé há de me manter seguro
quando soprarem os ventos da ilusão
pois quem tem olhos de ver,
em meio a engodos, iscas, tentação
há de discernir, de perceber
o que ligeiro, não ficará
para eleger o que há permanecer

Na dúvida, fico com a fé, que como guia
estribo, baliza, forte orientação
nos ajuda a prosseguir no caminho:
quando o vento sopra frio, duro
ninguém é bobo de desguarnecer o coração...

-------------------------------------------------------------

O poema do Leminski, que dispensa nome, é este aí, abaixo.
Nunca sei ao certo
se sou um menino de dúvidas
ou um homem de fé

certezas o vento leva
só dúvidas continuam de pé

O direito de réplica, por quaisquer vias, está, desde já, garantido... Que ele se sinta avisado.

-------------------------------------------------------------

Este e outros interessantes poemas do Leminski, podem ser lidos, aos pedaços, em sua obra póstuma O ex-estranho, graças ao Google Books.

2 comentários:

Ritze Ferraz disse...

Abel,
Na manhã fria deste domingo em BH, nada como gotas sobre a fé para aquecer meu coração.
Bom mesmo é termos dúvidas como bom mineiros e muita fé "nas gentes" desta vida louca.
Ritze

Otelice disse...

...pois fé é madeira de lei queimando
e formando, em boa brasa, o carvão
que depois há de aquecer, reconfortante
o peito de quem busca consolação...


E ai de mim, sem essa força viva a queimar-me o coração, a impulsionar_me, mar adentro, ou mesmo por entre as caatingas,a revelar-me, ante os perigos, ante as difícies provas sustentar-me, ante o caminhar doloroso e lento - medroso, às vezes - mas certo da solução.
A fé que nos sustenta e impulsiona em toda e qualquer situação.
Belo texto.