domingo, 14 de abril de 2013

Santa Rotina

Santa Rotina de cada dia,
abençoai os nossos esforços
de nos mantermos fiéis a nossos afazeres
cumprindo bem, e em tempo, nossos deveres.

Ainda és amaldiçoada, eu sei
como se a imposição de tarefas
por si só fosse algo pesado, uma tragédia
quando bem pode ser uma aventura, uma comédia...

Tenho aprendido que é nos minutos
poucos, esparsos, contidos, que nos resta
que podemos das insignificâncias fazer festa!

Festa para o olhar atento, concentrado
é perceber o novo que se reinaugura
refeito, redesenhado, em novas versões, 
remédio para a mente, para as emoções.

Festa pode ser também o inusitado
fazer o amor, combalido, maltratado
ressurgir, ao dizer boas palavras ao ser amado.

No conforto das balizas das horas
anseio pelo incomum que posso encontrar:
aquele teu sorriso hoje tem um jeito, uma nuança
que me faz lembrar riso espontâneo de criança. 

A chave talvez aí esteja: naqueles tenros dias
em que nossas mães tão cedo estabelecia
o que devíamos fazer, para nos proteger
das ausências de rumo, da hora vazia...

Era justamente nas folgas, nos intervalos,
que nossa curiosidade, ativa, mais crescia
buscando o saber, as boas surpresas, as descobertas, 
tônicos certos para a alma, contra a anemia.

Mais tarde, em meio às inconsequências quebramos
o relógio, as estacas, que nos poderia fazer
crescer protegidos, mesmo que com peia, amarrados 
candidatos, porém, ao sono dos justos, depois, cansados...

O tempo, porém, quando acolhido e auxiliar na lapidação
nos ajustes que vamos fazendo no decorrer de cada hora
nos ajuda a encontrar o prumo, em porto seguro nos ancora.

E agora, no vigor da segunda infância, que me levará aos sessenta
próximo de meio século, me sinto satisfeito quando consigo 
cumprir minha obrigação, qualquer empreitada, meu serviço,
com sensação de dever bem feito, de resolvido o compromisso.

Tal como aquele poeta eu canto o pouco, o quase nada, 
a beira da quase ausência, o fôlego que é um sopro só, um fio
e assim vou tecendo na doce espera, na terna manhã de cada dia
os assombros em face de cada pequeno encanto, da miúda alegria.







2 comentários:

Marilene disse...

"-Que coisa, não?" Diria o Quico, do Chaves. pois cá eu estava sentindo-me um tanto culpada por não ter ido ao curso que faço aos sábados já que acordei me sentindo doente. Mas sei que o dia está apenas começando e cada hora é cheia de possibilidades para eu aprender, criar, ensinar, me relacionar de maneira saudável...
Não preciso levar a vida de forma tão rígida e meus pensamentos não necessitam ser tão cartesianos, na maioria das vezes.
Parabéns! O poema é realmente lindo.

Abel Sidney disse...

valeu, Marilene!

sacudamos um pouco a rotina e nos renovemos. temos muito o que realizar!