segunda-feira, 1 de junho de 2009

Crônicas e ensaios VIII

Calendário

"
...se o calendário atrasar / eu faço voltar o tempo outra vez / tudo outra vez a passar" Fagner

Como se sabe, a indústria farmacêutica promove um saudável assédio aos médicos, por meio dos seus representantes. É através dessas visitas periódicas que são apresentados os novos remédios ou reforçado a imagem dos velhos. As famosas amostras grátis de remédio surgem desse contato. 

Além das amostras eles também ganham presentes de toda natureza: de almofada para carimbo a CD, de livros a relógios. Inclusive calendários. Muito bem, o que o tal calendário continha de original era apenas frases. Uma por mês, acompanhada de um desenho que a interpretava. É disso que trataremos. Eis as frases:

Janeiro: Jamais prive uma pessoa de esperança. Pode ser que ela tenha só isso.

Fevereiro: Cante no chuveiro.

Março: Aceite sempre uma mão estendida.

Abril: Saiba perdoar a si e aos outros.

Maio: Respeite todas as coisas vivas.

Junho: Saiba guardar segredos.

Julho: Assista ao nascer do sol pelo menos uma vez por ano.

Agosto: Aprenda a tocar um instrumento musical.

Setembro: Elogie três pessoas por dia.

Outubro: Tenha um aperto de mão firme.

Novembro: Gaste menos do que ganha.

Dezembro: Não reze para pedir coisas. Peça sabedoria e coragem.

Pode parecer filosofia barata, mas não é. Algumas podem pertencer ao gênero "dicas, truques e quebra-galhos", o que não elimina o seu valor. 

"Tenha um aperto de mão firme", por exemplo, é de fundamental importância nos nossos relacionamentos. Dizem alguns que aperto de mão frouxo revela insegurança ou timidez. Ou ainda descaso. Não é preciso, porém, quebrar os ossos alheios. É preciso saber dosar a própria força, convenhamos. 

As frases, por outro lado, proporcionam temas para que se escreva um livro. No entanto, fiquemos apenas com o mês de novembro e a sua sábia advertência: "Gaste menos do que ganha." O autor das frases, deve ter adivinhado que mais um capítulo da crise financeira internacional e brasileira iria nos encontrar em novembro com os bolsos vazios. Que dezembro seja melhor. E que rezemos menos pelos presentes que desejaríamos ganhar e mais pela sabedoria e a coragem que precisamos conquistar para seguirmos serenos, a despeito de tudo.

Seção Requentação (Porto Velho, 6 de novembro de 1998)

PS.: o ingênuo assédio da indústria farmacêutica aos médicos, relatado por mim, há quase dez anos, já caiu por terra... O calendário e as frases continua inspirando.

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