quinta-feira, 24 de junho de 2010

Depoimento de Mário Peixoto

AS TANTAS RAZÕES DO FRACASSO DE UM TUTOR EM SUA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
OU
A EAD EM AÇÃO – ÀS VEZES SIMPLES SINÔNIMO DE CONFUSÃO

Um depoimento corajoso. Isso sintetiza o que está abaixo transcrito, aos retalhos, depois da entrevista ao vivo.

O primeiro cuidado a ser tomado será o de salvaguardar a identidade deste professor do ensino presencial, guindado instantânea e inadvertidamente à condição de tutor por conta de suas duplas qualificações profissionais (órgão do judiciário e ensino superior).

O segundo cuidado será atender à solicitação do Mário Peixoto (pseudônimo, evidentemente) quanto à utilização das “frases ilustradas” de um colega seu publicitário, lá de Pernambucano, que sabe tão bem dizer muitas coisas em poucos traços e uma curta frase.


Quando fui intimado a fazer o papel de tutor aceitei por um simples motivo: a tal da Instrutoria Interna iria acrescentar um respeitável numerário ao meu salário no final do mês. Com tantas bocas a alimentar, não pensei duas vezes.

É claro que pesou também na minha decisão o fato de que eu tinha um nome estabelecido no ensino universitário (sou professor horista em um faculdade particular).

Mas não deu exatamente certo esta experiência...


Pois é... E eu só soube depois de encerrado o curso, quando fui ler as avaliações! Aí é um choque só. Você acha que cumpriu o seu papel, fez o que tinha que fazer e depois descobre que tudo não passou de um fiasco. A frase que sintetizou o meu fracasso foi esta: “Respondeu burocraticamente a todas as questões e dúvidas. Era de dar sono...”

A seu favor contou o fato de que um curso sobre orçamento público não costuma despertar muitas paixões...

Aí é que você se engana! O curso não somente foi desejado, mas muito bem elaborado – com um bom material impresso e atividades virtuais bem planejadas. A exigência dos alunos, nestas circunstâncias, só aumentou. E eu não estive à altura de corresponder às suas expectativas, embora eu seja reconhecido, na prática, como um expert no assunto lá no meu trabalho. Na faculdade eu nunca havia induzido nenhum aluno ao tédio ou ao sono...

Faltou, então, preparação para este novo ambiente de ensino-aprendizagem?

Faltaram muitas coisas! Na verdade, a EaD acabou revelando as minhas deficiências como professor presencial, que tem abusado do domínio de disciplinas vistas como complicadas e que aprendi a torná-las, é verdade, menos chatas... Mas estou longe de ser um facilitador, como aprendi posteriormente. Sou um ministrador, uma espécie de reverendo, liberal por um lado, cômico e bonachão por outro, mas que não desce do púlpito para conviver mais estreitamente com os fiéis...

Ah, é claro que além das planilhas de cálculo e dos rudimentos dos editores de textos, eu não havia me atualizado nas ferramentas da informática. Como diz um amigo meu, a “razão instrumental” costuma ser meu único guia. E neste sentido ela se mostra muito limitada, pois meu senso de objetividade castrou muitas próprias possibilidades de avançar na busca de mais conhecimentos...


Cite um caso de exigência dos alunos por uma maior participação sua, que acabou por não acontecer...

Alguns alunos, espertamente, criaram um grupo de discussão para suprirem as minhas deficiências de “articulador”, de “maestro”. Isso eu só descobri depois...

É de se imaginar o que eles andaram dizendo de mim, em reservado!

O que importa, no entanto, é que não consegui: 1) levá-los a construir discussões coletivas, em torno dos temas que estávamos estudando e fracassei também em 2) incentivá-los a aprofundar no debate de alguns conceitos, que foram superficialmente abordados por mim, em minhas intervenções; em razão disso deixei de fazer importantes vínculos entre o mundo conceitual e o mundo da prática efetiva e cotidiana do orçamento em uma instituição pública... Como se vê, um duro aprendizado!

A maturidade de alguns colegas-alunos te pegou no contrapé, pelo visto.

Não se brinca, em se tratando do mundo virtual nem com crianças, quanto mais com colegas mais experientes! E com isso eu não contava! Eles dominavam um sem-número de ferramentas que eu nem mesmo tinha ouvido falar...

A experiência deles, no entanto, estava também na autogestão que eles passaram a colocar em prática, à minha revelia, sem o meu controle. E eu ainda me iludi acreditando que repassando algumas tarefas, que era minha, a alguns deles, eu estava no comando das situações! Na verdade, o grupo exigia uma relação mais horizontal, mais próxima, com o compartilhamento coletivo de algumas decisões, ou pelo menos, dos critérios que poderiam embasá-las.

Mas tudo isso eu só aprenderia depois da tal avaliação, que fez sumir o meu chão...


Diante desta revisão na carreira acadêmica, existiria algum ponto que você gostaria de apontar como “falha” antes e que te levou a melhorar após a citada avaliação do curso?

Por trabalhar em uma área que pode conduzir muitos profissionais a sérias limitações quanto à aquisição de competências transversais e interdisciplinares, eu tinha uma severa deficiência que não costumava transparecer em um meu trabalho cotidiano, mas que se revelou por completo no mundo virtual: a minha incapacidade de escrever com proficiência e de modo organizado e instigador, como descobri depois ser tão importante! Sem contar que não passou despercebido aos meus colegas-alunos meus incontáveis erros ortográficos e de outras naturezas...

Enfim, ingressei na primeira oportunidade em um curso online de aperfeiçoamento cujo nome, um tanto enigmático, me assustou a princípio: Letramento digital e aperfeiçoamento nas habilidades da leitura e escrita a partir dos gêneros textuais.

Depois me enveredei no aprendizado de tudo quanto é mapa – conceitual, mental, argumentativo. Melhorei muito a minha escrita, a leitura e a interpretação de textos, além de não ter mais parado de fazer cursos... A verdade dói, mas ensina, quando estamos abertos à crítica.


OBS.: texto verossímil criado para um exercício de curso na modalidade EaD que estou fazendo...

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