sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A moça que ajudou a eleger um presidente

            Certos produtos penetram o imaginário popular de tal forma, que é como se existissem há séculos e fizessem parte da dieta dos nossos mais remotos antepassados.
Alguns, em particular, costumam participar de fatos históricos. Pelo menos numa das histórias que me chegaram aos ouvidos. Lendárias ou não, são saborosas.
Contam, por exemplo, aquela na qual o Leite Moça teria decidido a eleição de um presidente. Isso aconteceu logo depois do segundo mandato do Getúlio Vargas.
Os integrantes do Partido Social Democrata pareciam desejar ressuscitar a “política do café com leite”, entre Minas Gerais e São Paulo.
Ao se decidir sobre a escolha do candidato a presidente, a delegação paulista que se dirigira a Belo Horizonte, impôs o seu candidato ao partido.
Os ânimos iam exaltados e já se previa uma guerra nos bastidores, com consequências imprevisíveis.
Foi quando um dos representantes paulistas, ligado aos industriais, fez um sinal secreto aos seus assessores.
O auditório foi invadido por latas de Leite Moça, que foram distribuídas a todos os participantes do conclave, já abertas, com um furinho, prontas para serem consumidas.
Houve um grande murmúrio de aprovação no recinto e tudo mergulhou no mais profundo silêncio, segundos depois.
Ouvia-se apenas o incômodo barulho que os mais gulosos faziam ao sugar o leite sem os modos civilizados, muito apregoados na época.
Após deliciarem-se com o Leite Moça, o ânimo geral se acalmou e a discussão tomou novo rumo.
Um dos representantes da delegação mineira, matreiramente, solicitou ao seu colega paulista que lhes fornecesse uma caixa do leite fabricado pelo que denominou de “sua pujante indústria”.
Serviu-se, quase ao final, o mais saboroso café que já se havia tomado. Café com Leite Moça. Essa invenção mineira desnorteou os paulistas. Partiram para o consenso. Escolheram o Juscelino Kubitschek para candidato, como todos sabemos.
Contam que este, ao decorar o Palácio da Alvorada anos mais tarde, manteve durante todo o seu mandato, na espaçosa cozinha do palácio, um pôster com a menina do Leite Moça, em tamanho natural. Ao convidar os amigos mais íntimos a tomar ali um cafezinho, dizia que “aquela moça ali” o ajudara a se eleger presidente.

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