terça-feira, 28 de junho de 2011

Histórias inacabadas (iii)

O segredo dos Macuas

     Sabe quando nos invade uma doce nostalgia e desejamos voltar no tempo?
     Como se estivesse diante de um mapa, gostaria também de me deslocar em alguns poucos segundos, rumo ao norte, até alcançar o território Macua.
    E o que me despertou ainda mais a vontade de rever o meu povo?
  O doce-amargo ofício docente, de ser professora de língua portuguesa em um bairro de migrantes pobres em Maputo... O que me faz, a todo instante, me situar, como se eu necessitasse de mais chão para os pés, que estão cá pousados, mas com a alma buscando, a todo instante minha terra, pois hei de ter deixado lá fincada as minhas raízes.  
     Para não me esquecer disso tudo, estou a mostrar aos alunos os provérbios macuas, tão plenos de sabedoria e encanto. Não lhes prometi, no entanto, contar-lhes todos os nossos segredos, como um deles chegou a me sugerir...
    Eis o primeiro provérbio que saquei da memória e lancei na lousa: “Ser esperto é ter lume nos olhos (Okhomàla okhuma nitho)”.   
      – Professora – disse-me, de imediato, Menta – eu conheço algúem muito esperto e sábio!
      – E quem é, Menta? Alguém que nós conhecemos?
    – Sim, vocês conhecem sim. Não sei se o suficiente para perceberam o quanto os seus olhos brilham quando está em busca de conhecer algo mais.
      – E de quem se trata, enfim, minha cara?
      – E de quem mais, se não de mim mesma?
      Todos nós rimos muito com a sua afirmativa!
        “Que petulância essa a da Menta” - pensei comigo.
        Quem veio em seu apoio foi Muipiti, ao dizer-nos:
      – Eu concordo. E não é pelo fato de que somos macuas, podem acreditar!!
    – Ah, meninos! – foi tudo o que consegui dizer. E me pus a observar todos aqueles rostos em busca do lume, com os olhos a brilhar de curiosidade...

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