segunda-feira, 27 de junho de 2011

surto poético intermitente (v)

Penhora poética

Não temos letras de câmbio
dólar, euro ou mesmo real
e se assinamos letras promissórias
(que promete não sei exatamente o quê)
é  por imitação do ato de autografar
pois mal sabemos das implicações
que estas letras de trocas e de promessas
possa nos acarretar...

Sei que ao assinar estes documentos
tal ato, legalmente expresso em claro texto
pode nos levar ao que se chama “protesto”...
e não é um “ato de protesto” dos que reivindicam
mas é constrangimento, nos obrigando a pagar
mesmo que nada tenhamos com o que resgatar

Enfim, o assunto é difícil de tratar
por isso as pobres rimas a atestar
o que tenho acabado de expressar

Proponho, sem conhecimento de causa
num só fôlego, sem pausa, com pressa:
Penhoremos nossos poemas,
nossas crônicas, ensaios
e tudo o que mais pudermos
bem alto pendurar

Se penhora é intervalo, um ato de suspensão
até que um dia alguém nos avise
que temos “algo a acertar”
penhoremos também nossos suspiros,
certas ansiedades, sonhos, fantasias
alguns gramas de loucura
ou de lúcida e terna alegria
pois que a nós, poetas,
só nos resta mesmo isso:
tecer sem cessar na roca da paciência
os fios da esperança
de que um dia arranquemos do penhor
nossas tão raras jóias –
aquele soneto já quase esquecido
uma crônica escrita às pressas, mal polida
o testamento poético inacabado ou
ainda aquele retrato esboçado:
traços firmes de uma existência bem vivida.

2 comentários:

Izabel disse...

Agora estou te seguindo ainda mais de perto meu amigo e amado poeta.

Sempre me surpreendo e me encato com a facilidade que tens de ajuntar as palavras formando idéias que nos levam irremediavelmente a reflexão.

Parabéns!!

Abel Sidney disse...

Obrigado, minha amada!!

Ter você "mais de perto" será motivo de mais inspiração...;)