sexta-feira, 1 de julho de 2011

crônicas ou quase isso (i)

O jardineiro e a morte

Contam que durante a Segunda Grande Guerra, em um dos ataques alemães à capital inglesa, um filósofo refugiou-se em sua biblioteca, situada no porão, junto com seu jardineiro.
O homem simples, de mãos calejadas, buscou na prateleira algumas revistas e pôs-se calmamente a folhear e admirar as suas figuras, pois que era semi-analfabeto. As bombas voadoras eram despejadas sucessivamente, causando pânico em torno.
O filósofo andava de um lado para o outro, inquieto. E em certo instante não conteve a própria curiosidade e perguntou ao jardineiro:
- O que você está fazendo aí, pobre homem, a folhear estas revistas? Não percebes que estamos à beira da morte?
A resposta do jardineiro foi precisa:
- Estou a me preparar para a grande viagem.
E antes que o filósofo algo mais perguntasse, pois que a resposta do jardineiro o deixara perplexo, este complementou:
- Aprendi que se deve manter a fé e a coragem em qualquer circunstância da vida. E se possível, devemos morrer com um mínimo de dignidade, segundo nossas próprias convicções. Eu estou convicto de que a morte é um mero túnel, uma passagem para outra vida. Não vejo, pois, sentido algum em desesperar-me. De duas, uma: ou morreremos ou nos salvaremos; como nas duas alternativas continuarei vivo, segundo minha concepção, não há porque me preocupar.
Antes que o filósofo descansasse o seu cachimbo na mesa, sinal de que retomaria a palavra, ele arrematou:
- O melhor mesmo a fazer é me ocupar com algo que me proporcione prazer. Aliás, veja que belas flores! - disse apontando para uma das páginas da revista.
Ambos se salvaram. O filósofo, agora reticente quanto às suas antigas convicções quanto à vida, seus mistérios e desafios, nunca mais seria o mesmo...

Um comentário:

Íka disse...

Amei esta história, como sempre quem tem fé e a certeza da vida estará bem em qualquer situação.